Nos frigoríficos com inspeção permanente uma das principais doenças dos bovinos detectadas na inspeção post-mortem é a cisticercose.
Trata-se de uma zoonose com grande repercussão na saúde pública e causadora de grandes prejuízos à pecuária nacional.
Os mesmos agentes causadores da cisticercose, Taenia solium e Taenia saginata, causam outra enfermidade também bastante presente no Brasil e em países considerados pobres, em que o saneamento e questões básicas de higiene ainda persistem: teníase, também conhecida como “solitária”.
Embora sejam os mesmos parasitas os causadores destas duas enfermidades elas divergem bastante. A teníase ocorre devido a presença da Taenia no interior do intestino delgado dos seres humanos, já a cisticercose ocorre devido presença de cistos com a larva que pode se localizar em vários órgãos de seus hospedeiros, sendo os suínos e bovinos os mais comuns, e também de forma acidental (ou errática) nos humanos.
Ou seja, embora se trate de enfermidades causadas pelas mesmas duas espécies de helmintos (vermes), a teníase (solitária) não é considerada letal e tem o tratamento bem mais simplificado. Já a cisticercose quando afeta os homens, como também os animais, pode causar sérios problemas, sendo que sintomas e prognóstico (a cisticercose é letal) dependem bastante da localização dos cistos. Estes podem se localizar tanto na musculatura como em vários órgãos (fígado, coração, cérebro, etc..).
As carnes contaminadas com cisticercose, quando ingeridas causam a teníase nos seres humanos, não a cisticercose. A cisticercose humana é causada pela ingestão dos ovos da Tênia solium, que pode ser através, da autoinfecção ou infecção advinda de outro indivíduo, geralmente causada pela ingestão de água e alimentos contaminados com os ovos da tênia, contaminação esta que ocorre principalmente pelas fezes dos portadores da teníase.
O Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal – RIISPOA, que norteia o Serviço de Inspeção Federal desde o ano de 1952, estabelece (art. 147) que a inspeção post mortem consiste no exame de todos os órgãos e tecidos, abrangendo a observação e apreciação de seus caracteres externos, sua palpação e abertura dos gânglios linfáticos correspondentes, além de cortes sobre o parênquima dos órgãos, quando necessário.
Quanto à cisticercose a observação é feita em vários órgãos e músculos, considerados de predileção para os cistos: músculos mastigadores (piterigoides e masseteres), coração, língua e diafragma. Quando algum cisto é detectado toda a carcaça e vísceras são encaminhadas ao Departamento de Inspeção Final – DIF, onde o médico veterinário fará um exame mais detalhado, incluindo a incisão de outros órgãos e músculos, para confirmar o diagnóstico e dar o destino final aos órgãos e carcaça.
A destinação da carcaça e órgãos dos animais diagnosticados com cisticercose depende da intensidade da infestação e de como os cistos detectados apresentam-se (vivos ou calcificados).
Em caso da presença de um único cisto calcificado a carcaça pode ser liberada para o consumo, com exceção da parte afetada e dos tecidos circunvizinhos.
No caso desta infestação ser discreta a carcaça deve ser encaminhada ao tratamento pelo frio (manter em câmara frigorífica a temperatura inferior a 1º C por dez dias) e tratamento por salga (salmoura por 21 dias).
Quando o número de cistos for maior, mas a infestação não alcance generalização, a carcaça será destinada à esterilização pelo calor (produção de conservas e demais produtos submetidos à cocção industrial).
E por fim, nos casos em que a infestação for considerada intensa (vários cistos concentrados em uma pequena área ou dispersos por vários órgãos e tecidos) ou a carne se apresente aquosa ou descorada a carcaça é condenada (imprópria para a alimentação humana e encaminhada a graxaria).
Mais uma vez cabe aos consumidores adquirir carne (bovina e suína) oriunda de estabelecimentos portadores de inspeção federal, ou estadual e municipal, realizadas de forma permanente. Trata-se de uma forma simples de evitar não só a contaminação por estes agentes mas, também, impedir a disseminação destas doenças.
SAÚDE E INSPEÇÃO ANIMAL
https://saudeinspecaoanimal.comunidades.net/index.php?pagina=1421635107 , 10/01/2014