A leishmaniose visceral é uma doença que vem acometendo um número crescente de cães domésticos no Brasil. Sua importância extrapola a questão de saúde animal, pois é uma zoonose (doença que afeta os animais e os seres humanos) com ocorrência em vários municípios brasileiros.
Não só em cães, mas principalmente nos seres humanos, o que antes era considerada uma doença de predominância em ambientes silvestres e rurais nos dias atuais vêm se tornando uma doença urbana, como pode ser verificado no mapa a seguir:
FONTE: Ministério da Saúde/2012
Tanto nos cães quanto no homem a doença é causada por um protozoário da família Tripanosoma do gênero Leishmania. Segundo o Ministério da Saúde, embora outras formas de transmissão já tenham sido descritas, mas sem estudos que revelem sua magnitude e dinâmica na forma de transmissão, o modo de transmissão é através da picada de um mosquito conhecido popularmente como mosquito palha ou birigui (Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi). Este mosquito é encontrado em todas as cinco regiões geográficas do Brasil, se adaptando a variadas temperaturas, tendo hábitos vespertinos e noturnos atacando os homem e os animais principalmente no início da noite e ao amanhecer.
Como não existe cura para os animais comprovada cientificamente, a recomendação legal é para a eutanásia (sacrifício) dos animais confirmados como positivo, sendo esta a orientação também do Conselho Federal de Medicina Veterinária – CFMV, órgão responsável pela normatização e fiscalização do exercício da medicina veterinária no Brasil.
Devido os riscos à saúde pública, uma vez que um animal positivo mesmo que aparentemente não enfermo, possa ser picado pelo mosquito transmissor e posteriormente este mosquito vir a transmitir a enfermidade para seres humanos o CFMV alerta, inclusive, para a falta ética cometida pelos profissionais que se aventuram a protocolos de tratamento. “Até que a cura da doença seja cientificamente comprovada, o posicionamento institucional do Conselho Federal e também dos Regionais é pelo não tratamento do mal nos animais, garantindo assim a segurança e a proteção à saúde pública” afirma nota oficial do CFMV.
Vale a pena salientar que o Ministério da Saúde afirma que a doença, quando não tratada pode evoluir para óbito em mais 90 % dos casos em seres humanos. Os dados são alarmantes: de 2000 a 2011 morreram 2704 pessoas no Brasil com diagnóstico confirmado de Leishmaniose Visceral.
Nos caninos, que são considerados os principais reservatórios domésticos da Leishmaniose, praticamente a totalidade desenvolve a doença em sua forma visceral (LV). Os sintomas e sinais geralmente são pelagem seca e quebradiça, alopecia (queda de pelos) e crescimento exagerado das unhas, apatia e anorexia, perda de peso e massa muscular, dificuldade locomotora (causada por neuralgias, miopatias e artrites), polidipsia (aumento da sensação de sede) e polifagia (aumento da sensação de fome), vômito, diarreia, linfadenomegalia (aumento de volume dos gânglios), dermatites ulcerativas (na ponta da orelha e do nariz e ao redor dos olhos), sinais de insuficiência renal, podendo apresentar em alguns casos febre e esplenomegalia (aumento do volume do baço), conjuntivites e uveítes dentre outros.
Para os cães a prevenção deve ser feita através de um manejo ambiental, como por exemplo: limpeza de quintais, terrenos e praças, eliminação de fontes de umidade e eliminação adequada do lixo. Bem como medidas de proteção individual aos caninos, que são: o uso de coleiras, pipetas ou bisnagas conta gotas (existem várias marcas que além de carrapaticidas também protegem contra o mosquito) e sprays repelentes que são encontrados no mercado, bem como existe a vacinação. No Brasil existem apenas duas vacinas aprovadas pelo Ministério da Agricultura, que são a Leish-Tec e a Leishmune.
Além do diagnóstico clínico e epidemiológico existem provas sorológicas e parasitológicas para confirmar a doença. Os Centros de Controle de Zoonoses - CCZs geralmente fazem um teste rápido, a imunocromatografia, como teste de triagem e posteriormente fazem-se testes mais específicos, como o ELISA, para confirmar o diagnóstico. Podem se lançar mão também de testes parasitológicos em que se busca visualizar o agente (Leishmania chagasi).
Quando confirmado o diagnóstico os proprietários são notificados pelo CCZ para que se proceda a eutanásia, podendo, neste caso os proprietários dos cães realizarem novo exame em outro laboratório para garantir a confirmação do diagnóstico.
SAÚDE E INSPEÇÃO ANIMAL
Publicado no site http://www.saudeinspecaoanimal.com.br, em 25/04/2013. Reprodução total ou parcial autorizada desde que citada a fonte.