Em 24 de setembro de 2013, após um mês de intensa pressão por parte dos auditores fiscais federais agropecuários, o médico veterinário Flávio Braile Turquino era exonerado a pedido do cargo de diretor do departamento de inspeção de produtos de origem animal (DIPOA) do Ministério da Agricultura.
Hoje, pode-se dizer que deve ter sido uma das escolhas mais acertadas do médico veterinário, que sempre atuou na iniciativa privada e hoje é diretor responsável pela sucursal em Rolândia – PR da Campo Verde Trading BV, uma joint venture com sede em Amsterdam e que atua na área de carnes congeladas de alta qualidade (frango, porco e boi), produtos agrícolas e metais não ferrosos.
Em depoimento de “delação premiada” do empresário Alexandre Margotto, ligado (segundo o Ministério Público Federal) a Lúcio Funaro, operador do Ex-deputado Eduardo Cunha, homologados pela 10ª vara federal de Brasília o médico veterinário foi citado como uma indicação de Joesley Batista (da J&F, detentora de marcas como JBS/FRIBOI e SEARA), para que pudesse ter influência junto ao Ministério da Agricultura.
A indicação de Flávio Turquino ao cargo de diretor do DIPOA, foi sempre cercada de tumulto. O que se sabia à época era que o mesmo havia sido “apadrinhado” pelo então deputado Eduardo Cunha, sob a indicação da Big Frango (empresa da área de processamento de aves) que foi adquirida pelo grupo de Joesley Batista. O que de fato bate com as alegações do “delator”.
Tão logo Turquino foi nomeado, em agosto de 2013, os Auditores Fiscais Federais Agropecuários fizeram uma campanha para retirá-lo do cargo. Estava evidente para os servidores de carreira que a indicação de alguém vindo de uma empresa fiscalizada e com forte interesse na área, para gerir justamente o departamento que fiscaliza os estabelecimentos de abate e processamento dos produtos de origem animal no País, nomeado com o apoio do então todo poderoso presidente da Câmara Eduardo Cunha, traria imensos prejuízos ao departamento, com sérios riscos de reflexo em área sensível como é a de alimentos de origem animal.
Os auditores agropecuários, em sua maioria, entregaram os cargos que ocupavam no DIPOA e, em todos os estados e no Distrito Federal, foram feitas paralisações e manifestações com doações de alimentos (em especial frango) para chamar a atenção da população para o problema.
Agora com o depoimento de Margotto se sabe que os Auditores Agropecuários estavam cobertos de razão: Turquino havia sido posto em cargo estratégico para poder favorecer interesse de terceiros e não o interesse público. Diante do depoimento se constata também que o médico veterinário parece ter assumido a diretoria sem saber quais as reais intenções de quem o havia indicado. Já no cargo, sob forte pressão e suspeição dos servidores de carreira quando instado a atender aos pleitos de seus “padrinhos” se recusou.
Nas palavras do depoente, transmitido pelo programa Fantástico (19/02/2017) ele teria ficado “absurdado” (SIC). “Na hora que ele viu a pressão e do que se tratava (coisas ilícitas), ele não topou” informou o delator ao Ministério Público Federal. Ele teria preferido pedir demissão a sujar o nome da família, afirmou Margotto.
A JBS nega que tenha indicado cargos no Ministério da Agricultura ou feito qualquer pedido a Flávio Braile Turquino como diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, segundo nota da assessoria de imprensa do grupo JBS/Friboi enviada ao GLOBO.
Já se sabe que ser funcionário de carreira não garante atestado de idoneidade, que o digam os estrondosos casos envolvendo diretores de carreira da PETROBRAS. Mas neste caso merece destaque a posição firme dos auditores agropecuários em defesa da missão e atuação do Ministério da Agricultura e a decisão sensata e honesta do Médico Veterinário Flávio Turquino de pedir exoneração do cargo e não compactuar com ilicitudes.
SAÚDE E INSPEÇÃO ANIMAL